quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PASTEL DE CARNE E O VALE DAS DÚVIDAS

Questionava sobre a existência das naturezas mortas e doutrinárias, temerárias, fracionárias. Instigado por um prazer contemplativo de desvirtuar tantas realidades distorcidas por ecos mudos. Seduzido por devaneios pictóricos, binários, antológicos e frágeis. Perdendo a pouca racionalidade diante de múltiplas saídas, observadas por milhares de estátuas antropozoomórficas e polifônicas. Subia pelas escadas dos fundos de dezenas de labirintos que apresentam inúmeras possibilidades inconstantes.
Vigilante, notívago, impaciente, incansável na profecia de catástrofes benéficas e sem sentidos ou sentimentos passados. Personagem oblíquo, obtuso e experiente em fugas surreais de cárceres impossíveis de se penetrar. Ofegante na busca frenética e incoerente de sensibilidade em um empirismo sem o mínimo de objetividade. Transeunte de estradas axiológicas na imperfeição de um terreno desnivelado de barro amarelo. Descomprometido com o desejo complexo, individual e coletivo de dormir nas segundas-feiras. Habilidoso prosador, imperfeito como os Aedos antigos. Intérprete descartável, atuando no palco solitário do subjetivismo desmedido, desproporcional e solidário. Notável desvairado. Quebrando e solidificando códigos singulares e reguláveis como torneiras que jorram águas do Japurá. Escrevia cartas para a mãe e estórias de ficção científica.
Testemunhava a natureza metafórica, movida por uma etiqueta e equilíbrio oriental. Tinha a certeza da incompletude naquele reino de realezas famélicas. Leu os pergaminhos de Papillon. Depois se apaixonou por K. Dick, Bioy Casares, Jorge Amado, Saint-Exupéry e Michelle Perrot em outras encarnações. Examinador de estatísticas desnecessárias e sem valor de mercado. Fazia constantes elogios enfurecidos e raivosos. Tecia comentários, frígidos, mas suaves e sólidos como gelo derretendo sob o calor do zênite.
Literato desconhecido de um certo negativismo positivo. Criador de impossibilidades clássicas, benfazejas, estágios de ritos e rituais tortuosos e apócrifos. Aleatório ao desenvolvimento estrutural de arquiteturas quânticas, construídas com adobe. Sonhava uma ingenuidade soberba de mesquinharias inconstantes da temática seca e infeliz. Perdido no absurdo avanço de estratégias contraditórias, relativistas, inadequadas, magna de justificativas falaciosas, extraordinárias. Romântico como um Bolero cubano de Compay Segundo. Definições inspiradas no inato, insólito, abstrato, sonoro e divino do coreto alternativo.
Fragmentador de paradoxos e buracos negros. Divulgador da teoria do caos caótico de um calígrafo caolho e conspirador. Talvez individualista, libertário, universal, único, contemporâneo, histórico, apolítico, ocioso, bêbado, moderno, medieval ou iluminista. Dialogava usando a genialidade de uma criança centenária. Imprevisível nas medidas mensuráveis das incontáveis dimensões palpitantes como o ribombar dos trovões, anunciando a tempestade desafiadora.
Disperso, nadando desesperadamente no rio profundo de interrogações. Empurrado de volta ao ponto de partida pela força magistral das correntezas da incerteza. Sugado pelo rebojo da força líquida da inquietação.
Momentos de sublime apreciação. Sentado sobre a relva esmeralda, perdido em divagações, saboreando um delicioso pastel de carne moída e palmito. Contemplando inquieto o longínquo horizonte do Vale das Dúvidas.

Nenhum comentário: