quinta-feira, 21 de abril de 2011

YURUPARI KIÁ

Angá Puxi sempre reinou nas verdes paragens do Rio Pakuá Aratiku ( banana-preta ), próximo do iniciar dos Montes das Pedras Vermelhas. Lá naqueles frondosos bananais, o “ Espírito do Mal” comia com uma fome insaciável. Alguns relatavam que Angá Puxi era um macaco velho com garras afiadíssimas e dentes de jacaré.
Os mais idosos da tribo dizem que aquele jovem que comer estas bananas durante a lua cheia se tornaria um Awaté- homem valente, corajoso- ou irá sofrer de pertubações mentais vitalícias.
A maioria dos curumins não arriscavam tal destino; não queriam viver o resto da vida como um Akanga Aiwa ( doido ), andando sem rumo pela floresta e proseando com o Curupira, protetor “arteiro” da floresta e dos animais, castigador dos caçadores.
Angá Puxi tinha em sua volta uma gama de Yuruparis ( demônios ) de todas as espécies que atormentam a vida de homens, mulheres e crianças, causando todo tipo de problemas, principalmente doenças.
O dia amanheceu mais quente, era possível sentir a agitação fora do normal. O vai e vem dos habitantes é frenético. As malocas magníficas de palhas de palmeiras, transmitiam um aspecto vigoroso e seguro.
No olhar dos indígenas tinha uma expressiva mistura de apreensão e alegria. No ar havia um certo frenesi.
Se preparavam para mais uma celebração de cura.
A música começou a ser tocada durante a madrugada. As corujas e as onças pintadas foram testemunhas oculares da sonoridade das gigantescas Mawakus ( flautas ) que os deixavam eufóricos; sem dúvida, os festivos índios entravam em transe.
Pronunciavam cantigas mântricas, gesticulavam os menbros superiores e executavam passos milimetricamente marcados, levantando poeira do terreiro.
A noite caía com sua costumeira escuridão e centenas de homens invadiam o chão, dançando ritmadamente.
As mulheres indígenas apenas observam, ornamentadas com belíssimas e coloridas Putiras ( flores ) pelos cabelos. Todos bebiam nas cuias, a deliciosa e embriagante Kaiçuma, uma bebida fermentada feita da mandioca.
Na brasa da considerável fogueira, “sabrecavam” as carnes da última e farta caçada. Sobre as labaredas ardiam capivaras, macacos, jabutis, tracajás e pirás ( peixes ), muitos peixes de água doce , pescados nos lagos e igarapés da região.
Da maloca principal, saiu um curuminzinho desacordado em uma rede pendurada por uma madeira horizontal nos ombros de dois índios adultos.
O ritual era intenso, o chocalhar dos maracás inebriavam os presentes.
As orações eram cantadas na língua nativa com uma espiritualidade indescritível.
O pajé soprava fumaça de Tawari ( árvore amazônica ) no paciente para expulsar os espíritos malignos que não permitiam a criança dormir tranquila há mais de sete noites ininterruptas.
O sacerdote da religiosidade indígena, descobriu que um dos entes invasores do corpo do jovem, era o espírito do Yararaká ( o escorpião ). Todas as vezes que o indiozinho pegava no sono, a imagem do escorpião o perseguia. Os pesadelos noturnos também eram criados pelo Yurupari Kiá- demônio sujo- que não perdia a oportunidade de fazer suas visitas noturnas a rede dele.
O curandeiro fez um minúsculo corte no crânio do infante usando uma pequena Kice ( faca ) até sair gotas de sangue.
Foi incrível ter a visão dos espíritos impuros sendo extirpados da cabeça do doente. Expulsos pela força da magia do feitiçeiro indígena.
Depois colocou no local lesionado um punhado de Baruri ( tabaco ) para estancar o sangramento e bloquear a possível volta dos espíritos pelo lugar que foram retirados. Especialmente Yurupari Kiá- demônio sujo- o espírito mais teimoso e nocivo.
Aconselhou a mãe para alimentar a criança durante três dias seguidos com caldo de Çapukaya ( galinha ) com macacheira e batata cará para fortalecer o futuro grande guerreiro.
Para Yurupari Kiá nunca mais retornar à aldeia do Rio Pakuá Aratiku,o pajé encarnou o “espírito sujo” na Yawaraté Piranga ( suçuarana ), felídeo selvagem amazônico que não é bem visto pela tribo por causa da sua ferocidade.

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